Para iniciar um negócio na indústria editorial, você precisa conhecer as regras do jogo: desde as práticas tradicionais até as técnicas de ponta que os grandes (e pequenos) players da indústria usam atualmente para se manterem em um mundo onde o livro luta pela atenção de consumidores cada vez mais exigentes e heterogêneos.
Neste artigo, você irá descobrir algumas destas práticas de marketing editorial. Se o seu objetivo é começar a publicar seus próprios trabalhos ou promover novos autores, você também encontrará uma série de dicas e ideias para se destacar neste setor, que sofreu inúmeras mudanças com o aumento do número de publicações, o desenvolvimento da internet, o surgimento de novos dispositivos de leitura e as mudanças na distribuição.
O que é marketing editorial?
O termo “marketing editorial” é utilizado para se referir ao conjunto de táticas e estratégias de editoras, autores, designers, editores e livreiros para promover o consumo de obras e atingir seus objetivos de rentabilidade, ao mesmo tempo que promove a leitura como uma atividade enriquecedora.
Assim, além das peculiaridades de cada obra e das diferenças entre consumidores-leitores, há uma série de práticas que o marketing editorial vem implementando com sucesso desde o século passado, como o layout cuidadoso, e outros que ganharam espaço nos últimos anos, como realidade aumentada. Conheça todos eles abaixo.
Marketing editorial 4.0: como a indústria do livro sobrevive aos avanços da tecnologia
A estratégia da indústria editorial hoje pode ser resumida em uma frase: adaptar-se para sobreviver. Há cada vez mais propostas para que autores e leitores possam se encontrar, se não pessoalmente, pelo menos no ciberespaço.
A criação de redes sociais e aplicativos, que promovem a formação de comunidades de leitura e permitem o contato próximo entre ambas as partes, destacando o autor sobre a obra como estratégia de marketing (marca pessoal), estão mudando as regras do marketing editorial.
Inclusive, há um negócio em torno de livros voltados para escritores que querem aprender sobre marketing editorial.
A impressão sob demanda e as tiragens mais curtas permitiram que editoras menores e autores autopublicados evitassem despesas que não podem pagar, e as pré-vendas permitiram estimar a demanda.
Os tradicionais envios de resenhas a críticos e influenciadores da indústria editorial antes dos lançamentos continuam funcionando. E surgiram novos atores que se destacam porque criaram seu próprio público: os influenciadores.
Graças aos avanços tecnológicos, ações de lançamento e promoção de obras tornaram-se híbridas: virtuais e presenciais, visando agradar aos leitores que amam igualmente livros em papel e livros digitais para alcançar novos públicos em diversas partes do globo.
A indústria editorial em números: estatísticas de um setor que luta
Os dados estatísticos disponíveis na indústria editorial brasileira apontam uma tendência crescente no faturamento do mercado. De acordo com uma pesquisa apresentada no 2º Painel de Varejo de Livros no Brasil, realizada pela Nielsen Book e divulgada pelo Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livro), no período de 29 de janeiro de 2023 a 25 de fevereiro de 2024:
- Foram publicados 4.022.966 livros, um decréscimo de 0,29% em comparação com 2023.
- O faturamento do mercado foi de R$219.193.186,96, um aumento de 12,47% em comparação com 2023.
- O preço médio dos livros sofreu um aumento de 12,80%, passando de R$48,30 em 2023 para 12,80% em 2024.
- Há mais diversidade na venda de títulos em 2024, um aumento de 8,77% comparado com 2023.
No entanto, para as pequenas editoras, encontrar estratégias digitais que funcionem para promover seus catálogos ainda é um grande desafio.
Estratégias digitais de comunicação e marketing editorial
Com todas as mudanças que ocorreram nos últimos anos, como a pandemia de covid-19 e os eventos literários suspensos, o avanço do digital e as transformações no mercado, o marketing editorial precisou procurar novas opções para manter o consumidor-leitor próximo.
Algumas das principais adaptações de editores, autores e livreiros foram:
- Grandes editoras concentraram seus esforços em desenvolver plataformas com conteúdo exclusivo em diversos formatos.
- Editoras menores e autores independentes implementaram, com sucesso, o financiamento coletivo.
- Livrarias independentes optaram por aceitar a colaboração de terceiros, como o editor Andy Hunter, criador do plataforma Bookshop.org, que permite aos leitores comprarem seus livros em pequenas livrarias, obtendo lucros para estes negócios cuja importância cultural é indiscutível.
Como começar na indústria editorial: da diagramação ao design do catálogo
Se você veio até aqui motivado pela vontade de abrir um negócio no ramo editorial, além de conhecer as novas estratégias digitais de marketing editorial, há alguns pontos a considerar.
Aqui está uma breve lista do que você não deve ignorar para que o produto esteja à altura de seus leitores.
1. Diagramação editorial: o plano por trás do design
Você já possui um ou mais livros que tem interesse em publicar, mas para isso é necessário que eles tenham a aparência profissional que só a diagramação pode oferecer.
E não se trata apenas de design. A diagramação proporciona fluidez à leitura e promove a compreensão do texto.
Existem profissionais especializados em diagramação que podem ajudar nessa tarefa. Lembre-se de que, por mais perfeita que seja uma estratégia de marketing editorial, se o produto for ruim, as pessoas logo perceberão.
Considere a diagramação um investimento em excelência e não um gasto supérfluo.
Além disso, se você traduzir o texto, a diagramação permitirá oferecer o trabalho em mais de um idioma, mantendo o significado e a legibilidade no idioma que você decidir.
Se você optar por fazer isso sozinho e oferecer o livro em papel, precisará considerar:
- Escolher um programa de diagramação: Adobe InDesign é ideal, pois dá ao livro uma aparência profissional.
- Preparar o arquivo gráfico definindo
-
- Orientação do fólio: vertical ou horizontal, vai depender do tipo de livro que você decidir editar.
- Número de páginas: lembre-se de que existem duas páginas por fólio.
- Dimensões: sempre considerando 3 mm de sangria de cada lado, que serão cortados na produção.
- Margens: as internas, que vão contra a costura e não devem ter menos de 15 mm, e as externas, que são aquelas por onde é cortado e devem ter aproximadamente 5 mm.
Assim que os testes estiverem prontos, você pode passar para a próxima fase: projetar uma capa adequadamente, sempre considerando o leitor ideal. Continue lendo para descobrir como encontrá-lo.
2. Definição da buyer persona: o protagonista da sua próxima saga
Você tem um livro em busca de leitor, mas não de qualquer leitor. Por isso, é fundamental que antes de planejar a comunicação do seu produto, você saiba a quem se dirige.
A princípio pode parecer uma perda de tempo, mas se você não souber em quem concentrar seus esforços de marketing editorial, não terá sucesso. Aproveite o tempo para definir sua buyer persona.
Estas questões ajudarão a definir a persona da sua estratégia de marketing editorial:
- Sobre seus hábitos de leitura: lê mais de um livro por vez? Quanto tempo gasta lendo semanalmente? Lê para estudo, trabalho ou lazer?
- Sobre seu método de compra preferido: faz compras online ou prefere visitar livrarias? Aceita recomendações ou é guiado pelas análises da mídia? Quanto investe por mês neste hobby? Valoriza o livro como objeto ou se interessa apenas pelo conteúdo, acessando edições piratas?
- Sobre outros consumos culturais: gosta de cinema? Prefere o teatro? Seu único consumo cultural limita-se aos livros? O que acha dos audiolivros? Os inclui em suas atividades de lazer?
Essas respostas o ajudarão a selecionar as melhores táticas para chegar à biblioteca da sua buyer persona.
3. Design do catálogo editorial: peça fundamental do marketing editorial
O catálogo editorial reúne informações para seu consumidor, mas também para outros elos da cadeia de marketing, tornando-se uma importante ferramenta de marketing editorial.
Autores, editores, livreiros, agentes comerciais, distribuidores, imprensa e bibliotecários obterão dados valiosos como:
- Preço
- Métodos de compra e pagamento
- Autores
- Gêneros das obras que você vende
Cuide da estrutura escrita e visual, com textos atrativos e fotografias com excelente definição, pois será algo como uma carta de apresentação e vendas.
Se a sua ideia é criar uma pequena editora, seu catálogo deve ter uma certa consistência. Desta forma, os consumidores saberão que tipo de textos encontrarão no seu repertório.
Não tente abranger tudo, especializar-se em um nicho permitirá que você se torne uma referência em menos tempo e crie uma comunidade com os mesmos interesses.
Livro digital versus livro em papel?
Aparentemente, quando se trata do suporte de leitura, os leitores se dividem. Por um lado, os amantes dos livros em papel e, por outro, os fãs dos livros digitais.
No entanto, a indústria editorial está crescendo com a ajuda de empreendedores com propostas para todos os gostos.
De aplicativos como Book Highlighted, que permitem “sublinhar” livros de papel sem tocá-los e até marcar a página para revisitar a obra, ou outros aplicativos que visam criar o hábito de leitura (como a rede social Skoob), a dispositivos digitais que facilitam a leitura online usando o sistema braille, como o de Aleksei Rezepov, as opções são variadas e, sem dúvida, se você gosta de ler, encontrará uma que o agrade.
Skoob, maior rede social brasileira de divulgação da leitura.
Se, por outro lado, você tem pouco tempo para se dedicar à leitura, pode aproveitar os benefícios das alianças do mundo literário com os podcasts, bem como os audiolivros, um mercado muito promissor que está crescendo especialmente entre os millennials.
Para os amantes da literatura e colecionadores de edições de luxo, o setor editorial tem novas propostas, como livros com tecnologia NFT (Token Não Fungível), que garantem a propriedade de exemplares únicos e revenda legal que beneficia autores e editores.
Neste setor, a startup Creatokia lidera o movimento na indústria editorial e promete devolver às obras digitais o seu potencial económico e cultural no mundo real.
Embora isso não desencoraje os leitores piratas, que nos Estados Unidos representam grande parcela dos leitores, segundo o relatório do Projeto Panorama 2020, essa estratégia ajuda a dar valor ao livro como item de colecionador.
E se o objetivo é atrair leitores mais jovens, as editoras estão começando a assinar acordos com fabricantes de dispositivos sem tela, como a empresa belga Muuselabs, que usa áudio livros para crianças para conquistar um lugar no mercado entre as famílias mais jovens.
Dispositivo sem tela para pequenos amantes de histórias fantásticas.
Marketing editorial para captar e fidelizar clientes
Além da diferença entre os leitores que preferem os livros em papel aos livros digitais, existem estratégias digitais que conseguem cativar a atenção de ambos.
Veja os mais utilizados e exitosos não só para atingir os consumidores habituais, mas também as novas gerações e pessoas que ainda não adquiriram o hábito da leitura.
Marketing de influencers
Segundo Daniel Gómez-Tarragona, um dos mais reconhecidos especialistas em marketing editorial, quando se trata da indústria editorial, o apresentador da mensagem é fundamental e a credibilidade da fonte é um dos pontos essenciais no processo de comunicação.
Tanto os editores quanto os autores sabem disso. Por isso, recorrem a bookstagramers, booktubers e booktokers, influenciadores com suas próprias comunidades que incentivam a leitura, divulgam títulos, propõem desafios e, acima de tudo, dão à literatura um lugar privilegiado como atividade de lazer que parecia ter perdido espaço para as redes sociais.
Página da booktuber Mell Ferraz, da Literature-se
Página do booktoker @otiagovalente
“Literature-se” e @otiagovalente, influencers de leitura que chamam a atenção de leitores adolescentes de todo o mundo.
Realidade aumentada
Neste sentido, as propostas são cada vez mais variadas, participativas e realistas.
Um bom exemplo é o software criado pela empresa Jolifish Europe, que permite ampliar o conteúdo de qualquer produto impresso apenas usando um celular. Com vídeos, imagens, músicas e até anotações do autor, o leitor pode vivenciar o livro com todos os sentidos e conhecer detalhes que são omitidos na obra, como as lembranças de personagens literários.
A realidade aumentada a serviço da literatura para todas as idades.
Até o momento, o exemplo mais significativo do que a indústria editorial pode alcançar é o trabalho realizado com o livro Rutas de viaje, de Ugo Monticone, que com o esforço conjunto da artista Miss Pixels, do designer de som Marc Sauvageau e do aplicativo Artivive, permitem que o leitor mergulhe na psique de seus herois.
Literatura avançada da Artivive
Parece muito, mas há sempre mais, como os estandes criados pela Universidade de Rennes 2, que permitem uma experiência imersiva e multissensorial com hologramas de atores e ambientes nos quais os visitantes podem vivenciar trechos de um livro.
Os avanços são tantos e tão rápidos que leitores de todas as idades encontrarão, mais cedo ou mais tarde, propostas que os seduzam.
Fonte: ouest-france
Fonte: nicolas boudier
Cabine de realidade aumentada na Universidade Rennes 2, França. Experimentar a literatura com todos os sentidos.
Assinaturas e livros sob demanda
Enquanto as assinaturas de plataformas de livros digitais sob demanda crescem e as novas gerações deixam de ver as obras como objetos a possuir, para leitores tradicionais, aparecem propostas de assinaturas de envio de livros em papel usado, como a plataforma brasileira “Literatour”.
O tecnológico, o tradicional e o sustentável convivem em harmonia, basta observar e compreender o consumidor para o qual cada autor, editora ou livraria direciona suas obras e seus esforços de marketing.
Você conhecia essas tendências de marketing editorial?
A indústria editorial se adapta, se atualiza e cresce porque não descuida dos detalhes que fazem a diferença, como o layout, nem tem medo de mudanças, como a explosão do consumo de audiolivros.
Além disso, ela aprendeu a lição de seus herois: união faz força, e você pode superar as adversidades simplesmente virando a página.
Você está pronto. Aguardo seus comentários (e seus próximos livros)!
Publicado em 25 de setembro de 2024.
Revisado e validado por Jalusa Lopes, Country Manager da InboundCycle Brasil